Uma vez levantadas e validadas as necessidades de conhecimento para a execução dos processos e a disponibilidade de conhecimento dentro da organização, deve-se cruzar informações identificando os ‘gaps’ existentes entre oferta e demanda de conhecimento. Estes cruzamentos de informação podem ser feitos através da programação no próprio software de modelagem e com apoio de planilhas eletrônicas, da utilização de funcionalidades específicas em módulos de Recursos Humanos de Sistemas Integrados de Gestão, entre outros. O resultado deste conjunto de cruzamentos seriam as métricas que permitiriam a obtenção de informações quantitativas sobre o estado de competências da organização. Podemos dizer que os ‘gaps’ (positivos ou negativos) representam desnivelamentos entre oferta e demanda de conhecimento e podem indicar falhas na gestão do conhecimento
vigente na organização. Através da análise dos dados e informações provenientes dos modelos, é possível descobrir se existem conhecimentos na organização que estão aquém do necessário para a realização das atividades. Desta forma, pode-se contribuir para o aumento da efetividade das ações de capacitação da organização, na medida que se estará focando na eliminação das deficiências de competência dos processos da mesma. Também é possível descobrir potenciais desperdiçados, ou seja, conhecimentos importantes para a organização, que estão sendo sub utilizados, entre outras informações. O presente artigo propõe a criação de oito indicadores iniciais que devem ser utilizados continuamente como ferramenta gerencial para avaliação e desenvolvimento da gestão das competências, fornecendo insumos para a elaboração de programas de treinamento, de re-alocação horizontal e vertical de pessoal, de contratação, remuneração e demissão de pessoal, entre outros. Neste contexto, é essencial manter atualizada a base de dados com as informações sobre os conhecimentos necessários aos processos e disponíveis nas pessoas da organização, de forma a manter a aderência dos indicadores com a realidade existente na empresa ao longo do tempo. Os indicadores propostos estão divididos em dois grupos: Indicadores com foco na unidadeorganizacional (cargo, área, grupo etc.) e indicadores com foco no conhecimento.

Indicador da necessidade de treinamento.
O indicador da necessidade de treinamento baseia-se na análise comparativa dos somatórios dos ‘gaps’ de conhecimento de cada unidade organizacional em estudo. Esses ‘gaps’ são gerados a partir da subtração do nível de proficiência necessário para a execução dos processos pelo nível de proficiência disponível nos profissionais em um conhecimento.
Quando esta operação matemática resultar num valor não nulo positivo (isso ocorre, por exemplo, quando uma unidade organizacional necessita de um conhecimento X em nível alto para a execução de suas atividades e seus profissionais possuem este conhecimento disponível em nível abaixo do necessário, ou seja, médio ou baixo neste caso), então é possível concluir que este conhecimento não está totalmente coberto dentro da unidade organizacional, isto é o mesmo que dizer que esta unidade precisaria conhecer o assunto num nível superior. Com esta análise, é possível identificar se existem unidades organizacionais ou profissionais que estão aquém do necessário para a execução das atividades e, a partir daí, conduzir ações de capacitação orientadas pelos processos.

Indicador do percentual de cobertura da árvore de conhecimento necessário.
O grau de cobertura de uma unidade organizacional consiste no percentual de completitude que o profissional disponibiliza em relação a sua árvore de conhecimentos necessários. Para seu cálculo utilizam-se duas variáveis: a necessidade de conhecimento (indicador mencionado anteriormente) e o total de conhecimento necessário.
Este índice é inversamente proporcional ao de necessidade de treinamento, afinal se uma unidade organizacional tem uma baixa necessidade de treinamento é porque possui um alto percentual de cobertura da árvore do conhecimento necessário.
A principal contribuição deste indicador é permitir a capacidade de verificar a evolução das unidades organizacionais e/ ou pessoas, em relação ao seu aprendizado voltado ao cumprimento de suas atribuições. Além disso, esse indicador também ajudar a inferir a aderência dos conhecimentos disponíveis na pessoa em relação aos necessários ao cargo que ocupa (ou que pode vir a ocupar), constituindo assim num instrumento para mensurar e orientar projetos de re-alocação de profissionais.

Indicador de excesso de conhecimento aderente ou necessário.
A partir dos levantamentos de necessidade de conhecimento por processos e da
disponibilidade de conhecimento por pessoa,também é possível identificar se existem unidades organizacionais e/ou profissionais que possuem níveis de conhecimentos além dos necessários para a execução de suas atividades.O excesso de conhecimento aderente é aquele onde o profissional, por exemplo, necessita de um conhecimento Y num nível médio para a execução da atividade, mas possui um nível de proficiência alto com relação a esse mesmo conhecimento. Ou seja, este profissional possui uma proficiência maior que a exigida em um determinado conhecimento necessário à execução de suas funções. Essa métrica ajuda a inferir, por exemplo, as possibilidades de re-alocação de pessoal, seja para melhor aproveitar o ‘Capital Intelectual/ Humano’ da organização, seja para aumentar a satisfação do trabalhador.


Indicador do excesso de conhecimento extra.
Com esta classificação, é possível visualizar se existem setores que possuem
conhecimentos além dos necessários para a execução de suas atividades, ou seja, quais as unidades que possuem alguma proficiência em conhecimentos não necessários à execução de suas atividades. Semelhantemente à questão do excesso de conhecimento aderente, este indicador expõe as unidades organizacionais que possuem conhecimentos além dos necessários, ou melhor, não utilizados na realização das suas funções.
O conhecimento extra proporciona, no âmbito da organização em análise, uma maior diversidade de pontos de vista sobre as questões que se apresentam no dia a dia de trabalho.
Neste sentido, apesar de não serem estritamente necessários, os conhecimentos extras contribuem significativamente para o desempenho da organização. A criatividade, por exemplo, é significativamente potencializada quando há certa “diversidade de requisitos” na organização (NONAKA e TAKEUCHI, 1995), na medida que um grande conjunto de idéias que partem de pontos de vista diferentes podem, quando combinadas, gerar alguma novidade, algo provavelmente que não seria imaginado em um grupo mais homogêneo. Sendo assim, podemos dizer que as classes de questões anteriormente colocadas, o ‘gap’ e o conhecimento aderente são prioritários em relação ao extra, porém, alguma atenção deve ser dada a este aspecto.

Indicador da necessidade dos conhecimentos nos processos.
Analisando somente o levantamento de conhecimentos necessários às atividades dos processos, também é possível contabilizar o grau de necessidade de cada conhecimento através do somatório dos níveis de proficiência necessários do mesmo em cada ocorrência nos processos. Isto significa que quanto mais citado e quanto maiores forem os níveis de proficiência nestas citações, mais necessários serão considerados os conhecimentos. Esta análise é muito importante uma vez que a elaboração dos programas de treinamento deve ser planejada considerando não só a deficiência de determinado conhecimento, mas também o impacto que a capacitação vai causar nos processos desta empresa. Desta forma, conhecimentos com maior necessidade aparecem em muito mais processos, e vão refletir numa melhora de uma maior parte do fluxo de atividades da empresa. Note-se que este indicador esgota a ‘qualificação’ do grau de necessidade dos conhecimentos, já que não considera a criticidade dos mesmos na realização das atividades. Ou seja, não necessariamente os conhecimentos com ‘baixa necessidade’ segundo este indicador são menos importantes para os processos.

Indicador do grau de cobertura dos conhecimentos.
Esta análise visa destacar os conhecimentos mais deficientes dentro da organização, isto é, aqueles que estão disponíveis em uma menor quantidade entre seus membros quando comparado ao total necessário. Isso ocorre quando, por exemplo, uma determinada unidade necessita um determinado conhecimento para executar suas atividades, mas só um profissional desta mesma gerência possui esse conhecimento disponível. Este indicador, combinado com o do ‘grau de necessidade’, permite compreender a demanda por ações de capacitação na organização de maneira mais sistêmica, como mencionado anteriormente. Este índice possui o mesmo princípio do indicador de necessidade de treinamento (exposto no primeiro grupo), no entanto seu foco de análise é diferente. Enquanto no primeiro caso se pretende descobrir os setores da organização com maior incidência de ‘gaps’, aqui se procura identificar os conhecimentos que estão em situação mais deficientes para suportar os processos da organização. Os índices de cobertura dos conhecimentos considerando seu valor absoluto ou sua média ponderada pelo número de ocorrência nos processos tendem a ser muito diferentes, uma vez que o primeiro reflete o valor absoluto de treinamento necessário para nivelar a disponibilidade à demanda por este conhecimento e o segundo reflete um grau de cobertura de conhecimento proporcional à sua respectiva necessidade, ou seja, é uma medida relativa. Desta forma, ambos formatos deste índice devem ser considerados no planejamento de ações voltadas para adequação da oferta à demanda de conhecimento na organização.

Indicador do grau de disponibilidade dos conhecimentos.
Este indicador identifica o nível de disponibilidade dos conhecimentos na unidade organizacional em análise, ou seja, mostra que conhecimentos estão mais presentes e/ ou disseminados entre seus profissionais. Esta análise é importante uma vez que estes conhecimentos mais sólidos ajudam a compor os traços culturais da organização e, por outro lado, os menos disseminados podem sinalizar necessidades de capacitação para que sejam incorporados à cultura, tornando menores os riscos de escassez, entre outras coisas.


Indicador do grau de balanceamento dos conhecimentos.
Esta classificação é construída a partir do desvio padrão calculado com os níveis de proficiências de disponibilidade dos funcionários associados a cada conhecimento existente na organização. A importância desta análise se concentra na identificação dos casos em que há conhecimentos com uma distribuição muito heterogênea (ou seja, com maior desvio padrão), que podem se constituir em potencializadores de difusão deste conhecimento, aumentando sua disponibilidade na organização de uma forma mais simples e menos dispendiosa.


Vale destacar que a geração de indicadores de desempenho para os ativos de conhecimento de uma organização não é por si só suficiente para gerar melhorias de desempenho para mesma. É preciso também que o Modelo de Gestão vigente na organização seja indutor da criação de conhecimentos pelos profissionais, bem como da utilização das competências existentes nos processos. Segundo CARDOSO, CAMEIRA e PROENÇA (2001), a vantagem competitiva que as empresas devem procurar está na maneira correta de gerir seus recursos. Sendo o conhecimento um componente único e singular dentro de cada empresa, a gestão desse recurso valioso pode ser grande auxílio à orientação da vantagem competitiva perene.

É perceptível que o conhecimento vem revelando seu papel estratégico nas organizações num contexto onde os trabalhadores são colaboradores do conhecimento, estratégias devem ser executadas em todos os níveis da organização. È preciso mudar os comportamentos e adotar valores. O referencial financeiro funcionava bem quando as estratégias competitivas se baseavamna aquisição e gerenciamento de ativos tangíveis. Na economia do conhecimento de hoje, cria-se valor sustentável a partir de ativos intangíveis, como as habilidades e conhecimento, atecnologia da informação que respalda a força de trabalho e conecta a empresa a clientes efornecedores, e o clima organizacional que estimula a organização a solução de problemas e amelhoria contínua.
Os temas estratégicos do BSC descrevem as linhas gerais para a combinação deingredientes intangíveis com os processos internos para a produção de resultados tangíveis –fidelidade dos clientes, crescimento da receita e rentabilidade. Dessa maneira, o BSC forneceo referencial de mensuração e gerenciamento de estratégias baseadas no conhecimento.Em termos de gestão do conhecimento, há a necessidade de se saber quais são osconhecimentos que estão relacionados aos processos de negócios da empresa, como essesconhecimentos são empregados pelas pessoas e demais entidades envolvidas nestes processos,qual a melhor forma de se manter os conhecimentos sobre erros e acertos na execução deatividades, como conhecimentos externos podem ser acessados pela empresa, e finalmentecomo mensurar o valor do conhecimento para a empresa conforme seu uso e retorno na forma de contribuição ao bom desempenho dos processos organizacionais.Identificou-se que o BSC e GC auxiliam na implementação da estratégia, sendo esta apoiada pelas pessoas e processos. Ambos, GC e BSC, são importantes para a estratégia, por isso encontram-se lado a lado.